quinta-feira, maio 20, 2010
Capítulo final de 'Shrek' é o mais divertido da série.
Porque toda a série dos filmes Shrek tem por base o faz de conta, poderíamos simplesmente fingir que Shrek Terceiro jamais aconteceu. Depois de dois contos de fada contorcidos com astúcia, a terceira parte da história não apresentava grandes reviravoltas, e explorava o divertido ogro verde e seus amigos simplesmente em busca de lucros rápidos.
Todo mundo que está envolvido na produção de Shrek Forever After parece perceber que existe terreno perdido a recuperar. As piadas são mais engraçadas, e desta vez parecem ter sido confiadas a atores que não estão simplesmente recitando suas falas; a história inclui até mesmo a mais divertida ameaça ao reino de Far Far Away desde lorde Farquaad, no primeiro filme. O novo Shrek é uma chance de salvar a série, e talvez seja capaz disso.
Talvez seja por isso que Shrek (com a voz de Mike Meyers) tenha mais a enfrentar desta vez do que cacas de bebês ogros, ainda que as piadas sobre isso ainda sejam muito frequentes. Em uma sequência muito bem editada no começo do filme, vemos a irritante repetição da rotina doméstica e da necessidade de conviver com o jumento ruidoso interpretado por Eddie Murphy. Shrek nem mesmo tem tempo de desfrutar de seu banho de lama, e o rugido que costumava assustar os aldeões do reino agora virou motivo de brincadeira nas festas.
A crise de meia-idade de Shrek se torna mais complicada quando o sorrateiro Rumpelstiltskin (Walt Dohrn) oferece ao ogro um dos negócios maliciosos pelos quais o personagem se tornou conhecido nos contos de fadas. Ele lançará um feitiço que dará a Shrek um dia a mais como o monstro que foi no passado, antes de Fiona (Cameron Diaz) e das crianças, quando ele podia pilhar e saquear o quanto desejasse. É claro que Rumpelstiltskin exige alguma coisa em troca dessa ajudinha, como parte de seu esquema malévolo para tomar o controle do reino.
Os resultados se tornam uma espécie de paródia e homenagem ao filme A Felicidade Não Se Compra, de Frank Capra. Shrek passa a viver em uma espécie de versão paralela de Far Far Away, onde seus amigos não o conhecem. Fiona é uma princesa guerreira que lidera uma rebelião contra o regime de Rumpelstiltskin, e não tem interesse algum em conceder a Shrek o beijo de amor verdadeiro que representa a única maneira de romper o feitiço. O gato de botas, interpretado por Antonio Banderas, deixa de ser corajoso e galante e passa a ser uma espécie de Garfield. A personalidade paralela do Gingerbread Man é muito divertida: os biscoitos em forma de animais jamais sofreram tanto.
Os roteiristas Josh Klausner e Darren Lemke conseguem encontrar um equilíbrio agradável entre as metacrises de Shrek e o estilo de humor aloprado que caracteriza a série. E bem no meio de toda a trama está Rumpelstiltskin, uma espécie de Gollum que sofre de hiperatividade e rouba todas as cenas de que participa, graças em parte à pronúncia malévola que Dohrn empresta a todas as suas falas.
Porque Shrek Forever After será lançado também em 3D, o diretor Mike Mitchell usa em demasia imagens aéreas -voos em dragões, vassouras de bruxas e qualquer outra coisa capaz de ascender e mergulhar. Apenas cinco meses depois do lançamento de Avatar, os magos da filmagem 3D já precisam pensar em novas maneiras de atrair a audiência. Excetuadas as sequências de voo, o filme traz pouco que justifique pagar mais a fim de assistir à sua versão 3D.
Mas Shrek Forever After é uma firme ponte entre o esplêndido How To Train Your Dragon e o brilho que todos esperam de Toy Story 3. Ainda assim, o novo filme de Shrek surpreende pelo vigor, depois da apatia de Shrek Terceiro. O novo trabalho foi definido como o último episódio na saga do grandalhão, e me apanho inesperadamente triste com sua partida.